O universo da arte em contextos adversos
Carlos Cartaxo
O mundo nos expõem inúmeras imagens no nosso cotidiano. Infelizmente, na maioria das vezes, passamos despercebidos do que realmente deve ser visto. É a velha concepção de que se vê, mas não enxerga. Essa pouca percepção podemos considerar como sendo um dos elementos que compõe o analfabetismo visual, conceito inerente a educação visual e, consequentemente, ao mundo das artes. Portanto é sobre esse tema que trato agora.
É claro que essa questão é muito mais ampla, pois trata-se de leitura visual, por isso o termo analfabetismo visual; não obstante a complexidade,introduzo o debate com o intuito de ampliar esse conteúdo. Para superar essa, digamos deficiência, faz-se necessário trabalhar alguns sentidos, principalmente a visão. Todavia não basta estimular a visão, precisamos estimular a sensibilidade e a percepção para avançarmos na cognição. Só assim teremos um debate social maduro através da arte.
Pois bem, em recente visita ao Metropolitan Museum of Art de Nova Iorque eu me deparei com inúmeras obras, principalmente esculturas e pinturas, com nu e fui direcionado a analisar o tratamento dado, por parte de grupos conservadores, sobre a exposição QueerMuseu realizada em Porto Alegre e a performance "La Bête" do MAM - Museu de Arte Moderna de São Paulo. Para os conservadores, arautos da "boa" moral, criança não pode entrar no Metropolitan e, tem mais, nem passar na calçada. Dentre as dezenas de obras com nu, talvez centenas, destaco o Sarcófago romano de mármore, datado de 220-230 d.C., e a imagem da calçada em frente ao Metropolitan. Complementando publico a imagem de um pedinte, branco, na esquina da famosa loja Macy's, considerada paraíso do consumo pela sua grandeza, preço e qualidade dos seus milhares de produtos.
Fruto dessa onda conservadora e retrógrada, inclusive na política, que vem se espalhando pelo Brasil, fui informado que um escola evangélica de Bayeux, na grande João Pessoa, reuniu os pais e mães para falar sobre o tema do nu e do cuidado que deve-se ter com a formação das crianças. Foi uma tarde doutrinária coordenada por um psicólogo evangélico. Para o debate tiveram como referência o ECA - Estatuto da criança e do adolescente. É claro que interpretaram o ECA em parte e de acordo com a concepção evangélica. A fonte da informação tem formação acadêmica e evangélica e defende, por exemplo, os homossexuais. No entanto, no final da conversa, ao falar sobre o tema, preocupada com a filha criança, condenou as ações artísticas, acima citadas, em nome da moral e dos bons costumes.
Para quem estuda e trabalha com arte, esses eventos só vêm reforçar a necessidade da arte se abrir, sair dos museus e galerias, teatros e auditórios, espaços fechados e burgueses, para permitirem uma formação plural através da educação visual. Tentar cercear as crianças de conhecerem o "mundo" naturalmente é formar pessoas com pouco conteúdo e sem leitura crítica, portanto submissas e alienadas . Aqui deixo a reflexão para os leitores e concluo que a arte é um universo cujo conteúdo nos situa e nos faz enxergar, além de ver, os contextos adversos que nos cercam.
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