Romance A família Canuto

Romance A família Canuto
Romance A família Canuto e a Luta camponesa na Amazônia. Prêmio Jabuti de Literatura.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

A educação e o negro no cinema

A educação e o negro no cinema
Carlos Cartaxo

A arte e a comunicação convergem para a educação, que, por sua vez, conflui para a composição de uma sociedade avançada no que concerne a valores, respeito humano e competências. Essa é uma propositura que é defendida por vários educadores. Esse artigo vem somar e auxiliar essa tendência pedagógica porque significa acúmulo e reforço de conhecimento para quem trabalha com arte e comunicação, levando em consideração os contextos sociais. 
Atrizes interpretando Lisístrata, Luanda, Angola. Foto: Carlos Cartaxo
No livro “A elite do atraso: da escravidão à lava-jato”, Jessé Souza aborda a desigualdade social que impera no Brasil fazendo do país uma sociedade excludente que ainda tem na sua base a escravidão. O conteúdo desse trabalho nos dá um suporte teórico para compreendermos a composição injusta que a sociedade patriarcal tem dado aos subalternos na nossa sociedade. Esse tratamento tem o fim, inclusive, de desqualificar a cultura negra em detrimento da cultura imigrante europeia, que chegou no vácuo da modernidade no Brasil. Como diz o pensamento de Jessé, chegou trazendo o dito progresso, mas desqualificando a população negra, a tal ponto de classificá-la como “ralé”. “Como aspecto adicional que contribui para o desajustamento social que se consolida a partir desse período, com efeitos até hoje, há que se lembrar do cerceamento das expressões culturais do negro” (SOUZA, 2017, p.78). Por muitos anos a expressão cultural foi aprisionada e desqualifica, todavia a arte tem aberto janelas que tem colocado a “elite do atraso” em xeque-mate.
Essa é uma vertente para quem acredita que a arte vai além da perspectiva do deleite, da arte pela arte, da arte enquanto apenas elemento de apreciação estética. Contrário a esse raciocínio, eu parto do princípio de que a arte é conteúdo, portanto seu acúmulo é um fator positivo e necessário na formação cidadã. E, consequentemente, toda sociedade que se propõe a ser evoluída precisa informar e, naturalmente, formar seus membros para que tenham uma base cultural consciente e comprometida com a igualdade social.
A disciplina Direção de Arte, dos cursos do Departamento de Comunicação da UFPB, me tem dado a oportunidade de trabalhar com a arte na perspectiva de formação através da comunicação. Essa é uma disciplina técnica, não obstante essa abordagem voltada à prática permite trabalhar a técnica com a vertente criativa, crítica e analítica, o que possibilita reflexão e contextualização dos conteúdos trabalhados. Por exemplo, o filme “O Grande Desafio” é uma fonte de referência para a disciplina porque, além de ter qualidades técnicas cinematográficas, tem conteúdo que se apropria da arte, através da comunicação, para provocar um choque reflexivo no que concerne a história do negro na sociedade escravista e capitalista.
Escrever sobre cinema tendo como referência de conteúdo o negro nos remete, de imediato, a “O grande desafio”, filme com direção de Denzel Washington, consagrado ator e diretor norte-americano, negro. O filme tem roteiro baseado em fatos reais acontecido no Texas nos Estados Unidos da América, nos anos 30 do século XX. A história está situada em uma faculdade, Wiley, portanto em um universo educativo, tendo como personagens, alunos, professores, trabalhadores rurais, um pastor e, como não poderia deixar de ser, um xerife liderando uma polícia preconceituosa, excludente e opressora. O enredo está centrado no grupo de pesquisa da faculdade, liderado pelo professor Melvin Tolson, interpretado por Denzel Washington, que faz parte da tradição norte-americana de grandes debates. A eficiência científica do grupo, que estuda e pesquisa com afinco, colocou a humilde faculdade como vencedora no centro dos maiores debates nacionais. O grande desafio”, além das inúmeras conquistas, foi vencedor do debate com a Universidade de Harvard. O grande mérito foi fazer enfrentamento com a política excludente norte-americana que, inclusive, na época do filme, tinha o linchamento de negros como um procedimento corriqueiro. O fato do professor Melvin Tolson também ser uma ativista político, além de amante do conhecimento e das palavras, coloca mais uma pitada de conteúdo ao filme, o que fortalece a tese de que os avanços sociais são frutos de luta e da organização política da sociedade. Vale ressaltar que os aspectos técnicos contribuíram consideravelmente para a crítica social do filme. As cenas do linchamento de um negro, do atropelamento do porco, da prisão e soltura do professor, dos debates, inclusive da única derrota, das reuniões do grupo que focava na disciplina da pesquisa e na leitura, da partida no trem para Harvard e da cena do debate final, são ícones que fortalecem a ideia de esforço, conquista, vitória e persistência na luta por liberdade e igualdade.
Então, o que se aprende com um filme como “O grande desafio”? Por que o cinema é uma expressão artística de cunho formativo? E a escola e a mídia devem valorizar o cinema como expressão geradora de conhecimento ou apenas deleite e divertimento? A técnica deve sobrepujar o conteúdo? A estética é apenas uma questão de regozijo? As perguntas podem ser muitas; as respostas, não. O cinema, enquanto expressão artística, é um elemento formador que propicia o acúmulo de conhecimento; enquanto produto que objetiva a mais-valia também traz consigo o valor pedagógico que toda imagem nos propicia.
Aqui vale ressaltar que muitos filmes, pinturas, livros, peças de teatros, espetáculos, músicas, etc., trazem consigo a ressignificação da cultura negra e a ressignificação da beleza, mais do que isso, propiciam um debate sobre a participação social do negro e a importância política da inclusão deste como ser culto, ativo e produtivo no contexto pós-moderno que estamos vivenciando.
O cinema como recurso pedagógico permite aprofundamento de conhecimentos, buscando o aparente indisponível, além do disponível nos livros didáticos. É um recurso que possibilita a ruptura com a dominação do conhecimento, inclusive nas áreas da saúde, exatas e tecnologia, apenas acessível à elite social. Então, há que se concordar que é educativa a propositura que fomenta a arte que expressa criticamente à condição racista em que muitas sociedades estão inseridas.

Referências
SOUZA, Jessé. A elite do atraso: da escravidão à lava-jato. Rio de Janeiro: Leya, 2017.

segunda-feira, 26 de novembro de 2018

O mundo está virado

O mundo está virado
Carlos Cartaxo

O mundo não está virado! Parece-me pouco interessante iniciar um texto com negativa, mas a liberdade literária me permite brincar com palavras e sentidos. É inquestionável que muitas “coisas” estão ao avesso; são livrarias fechando, pessoas lendo menos, amando menos, trabalhando mais, pobre pensando que é rico, rico explorando pobre. Gente fumando mesmo sabendo que é veneno. Aluno/as estudando sem saber porquê, outros se tatuam para.. não sei bem o porquê... Talvez culto ao corpo ou rebeldia, auto-afirmação, demarcação de poder; outro/as brincando de fazer sexo, brincando de consumir drogas, de usar veículos para testar a adrenalina trafegando em alta velocidade, “brincando”! Homens agredindo mulheres, pessoas agredindo crianças. Líderes religiosos vendendo indulgência, mentindo em nome de Deus, explorando a pobreza com o dízimo, usando a igreja para eleger corruptos; políticos corruptos sendo eleitos com o argumento de combater a corrupção; empresários defendendo a livre iniciativa, contanto que seja para interesse pessoal; judiciário julgando em causa própria, condenando sem provas, e muito, muito mais. Diante desse quadro nos chega a ideia de que o mundo está virado. Pois é, assim caminha a humanidade.

Foto: Carlos Cartaxo. Museu de Arte Contemporânea de Barcelona, Espanha.

Se analisarmos a história da arte, digo a história da humanidade, veremos que o rumo é outro. A humanidade não tem retrocedido, tem evoluído! Da pré-história à pós-modernidade encontramos avanços em demasia. É claro que muitas conquistas são fruto de algum retrocesso. A máxima popular é bem clara ao esclarecer que muitas vezes é necessário “um passo atrás para avançarmos dois à frente”. Perder uma batalha não quer dizer perder uma guerra, assim como perder uma partida não impede de ser campeão. Paradigmas hão de serem rompidos; trilhas hão de serem conquistadas.
Os valores éticos e humanos devem priorizar nosso procedimento diante da sociedade. Essa deve ser a escala comportamental da cidadania. Se observarmos trabalhos como as peças de Sófocles, Aristófanes, William Shakespeare, Paulo Pontes; performances de Vant Vaz; quadros de Picasso, Flávio Tavares; músicas de Villa Lobos, Pedro Osmar, Chico César, estes representando aqui milhares de artistas que expressaram e expressam a alma humana, constataremos que a arte ainda é uma luz no fim do túnel da desilusão.
A arte por si só não diz tanto quanto tem para dizer. Todavia quando há convergência entre a arte e a comunicação, a revolução está pronta para eclodir. A Instalação: Sob os paralelepípedos - o poético e o político em maio de 68 na França, realizada pela ADUFPB no Centro de Vivência da UFPB, em maio de 2018, expõe o quanto revolucionária pode ser a arte, além de instigadora e comunicativa. Revolução fortalecida de sentimentos, de compreensão, de respeito, de compromisso, de atitude e de consciência para com a vida.

Foto: Carlos Cartaxo. Instalação: Sob os paralelepípedos - o poético e o político em maio de 68 na França

Ao ler “Lisístrata”, peça teatral de Aristófanes, dramaturgo grego, escrita em 411 a. C., somos estimulados a compreender o papel da mulher na sociedade como sendo de equilíbrio. Para aqueles que colocam a greve e os protestos no patamar do “comunismo” precisam saber que “Lisístrata” é o primeiro registro literário sobre greve, e greve de mulheres. Aqueles que defendem a moral da família, mas que, hoje, traem a esposa/o e têm filhos de relações extra-conjugais, é bom ler “Édipo rei” de Sófocles, tragédia escrita 427 a.C. No caso daqueles que vão aos cultos, templo, igrejas, pedir votos para corruptos em nome de Deus é bom ler Hamlet ou Otelo de Shakespeare para tomarem conhecimento  do que é traição, lutar por poder, brigas e mentiras.
Diante das ricas possibilidades de aprendizagens que a arte possibilita, me vem à indagação: será que o ensino de arte está trabalhando o conteúdo arte com a perspectiva de contribuir para a evolução social e formação cidadã? Será que o/as discentes vivenciam experiências que tenham como foco a paz, o respeito e a igualdade? Muitas perguntas surgem; algumas delas vêm com respostas; e nós mortais que estamos lendo, podemos questionar: que ações estamos realizando para enquadrar uma nova ordem mundial onde todos possam ter no abraço e na aprendizagem o berço da felicidade e da solidariedade?
Quando a arte se aproxima da comunicação ou vice-versa, me certifico que o conteúdo arte quando chega à comunicação sofre uma tempestade de deformações. Enquanto Aristófanes demonstra em “Lisístrata” a força da mulher e a necessidade de sua organização em grupo na sociedade, vários canais de televisão no Brasil fazem campanha contra a violência doméstica, mas apóiam candidatos que irão representar organizações e pessoas que defendem abertamente a violência propondo uma sociedade de conflitos.  Enquanto o autor grego citado, há século propaga a paz nas suas peças teatrais, vários canais de comunicação, dentre eles a televisão e o cinema, propagam a violência, a ideologia do conflito, de guerra e poder.
No quadro Guernica, Pablo Picasso demonstra toda sua indignação contra o fascismo e o nazismo. Nesse trabalho, que está exposto no Museu Reina Sofia em Madrid, Espanha, o autor expressa toda sua indignação e inconformismo com a bomba lançada por um ataque aéreo nazista, em apoio ao regime fascista espanhol de Francisco Franco, que destruiu grande parte da cidade de Guernica na Espanha, deixando o saldo de centenas de civis mortos entre crianças, mulheres e trabalhadores.
Quando o/a professor/a de arte trabalha a obra de Picasso como conteúdo, na sala de aula, que conexão ele/a faz com a violência urbana no Brasil? A burguesia que vai passear na Europa, quando passa por Madrid, vai ao Reina Sofia, apreciar a famosa obra de Picasso e que associação essa classe burguesia faz com a matança de negros e pobres nas favelas e periferias brasileiras? Como o/a docente trabalha metodologicamente esse conteúdo para que o/as discentes entendam a obra Guernica e entendam o contexto em que vivem na sua comunidade?
Mais uma vez volto o foco a mídia, mais especificamente aos programas policiais e semelhantes da televisão aberta brasileira que faz da dor humana a espetacularização que gera audiência fortalecendo o sentimento de impotência em quem mora a margem da sociedade burguesa. Essa questão não é nova, Guy Debord, no livro A Sociedade do Espetáculo, aborda essa temática de forma crítica. Ele demonstra o quanto essa sociedade dita real é de fato subjetiva, voltada ao consumo desvairado, logo irreal. Mas quem lê esse autor? Os fomentadores da violência e da deseducação, certamente não lêem, e ainda defendem o pensamento da “escola sem partido” que de fato é “escola de um único partido”, um único pensamento, que, por conseguinte, defende a divisão social em classes distintas e distantes, onde os hegemônicos determinam o que os subalternos devem ver, consumir e gostar.
No livro a Utopia do gosto, Waldenyr Caldas, argumenta que gosto se discute porque gosto se impõe e se determina. Essa tese ratifica a compreensão de que não há neutralidade no conhecimento. A publicidade, o marketing e outras ferramentas da administração e da comunicação são trabalhados no sentido de tornar o sujeito um consumidor em potencial e, na maioria das vezes, consumir e gostar de veneno, além de propagar e defender o que é determinado como sendo bom!
É impossível esconder: a ideologia está presente em todos os seguimentos da sociedade, em todos os canais de comunicação. Nesse sentido, uma conclusão surge no nosso horizonte, no caso, é a convergência para a leitura, o debate, o respeito e a pluralidade de ideias. Essa propositura pode resultar em ações, inclusive comportamentais, que podem desvirar o mundo que nos parece estar de cabeça para baixo. Ler com perspectiva crítica e analítica possibilita a todas as gerações acúmulo de conhecimento plural, ético e eclético, o que nos faz compreender que se o mundo parece estar virado, todavia nós podemos e devemos desvirá-lo colocando-o no eixo lógico do que parece certo, mesmo que seja uma certeza relativa.

Referências
CALDAS, Waldenyr. Uma utopia do gosto. São Paulo: Brasiliense, 1988.
DEBORD, Guy. A Sociedade do espetáculoRio de Janeiro: Contraponto, 1997.
PROENÇA, Graça. História da arte. São Paulo: Ática, 1995.

quinta-feira, 8 de novembro de 2018

A arte não é um mundo à parte!

A arte não é um mundo à parte!
Carlos Cartaxo
A fragmentação da arte em especialidades ou em áreas tem causado um desconforto a quem pesquisa nessa área de conhecimento. Há duas correntes separadas por compreensão teórica que determinam que caminho trilhar. Uma é a concepção da moderna de que a arte deve estar nas galerias, museus, teatros, salões, concertos, para serem apreciados em espaços fechados, geralmente cobrando ingressos. A outra tem princípios conceituais diferentes, parte do fundamen  Essas concepções não são necessariamente antagônicas; claro, em alguns momentos se chocam, em outros se aproximam.
to de que a expressão artística não deve ter como essência interesses financeiros, deve ser livre e não precisa de parecer de críticos, acadêmicos, especialidades para definir o que é ou deixa de ser arte.
O advento no mundo virtual é um exemplo de que a arte fechada e determinada se é arte ou não por um dono do saber não cabe mais no contexto pós-moderno que se configura à nossa frente. Essa questão me remete ao livro Amor líquido de Zygmund Bauman em que o autor aborda sobre os relacionamentos no mundo volátil em que vivemos. Nesse contexto, os relacionamentos virtuais são pragmáticos e efetivos; mas o sonho é um relacionamento real, embora complexo.
No ensino da arte não é diferente, a admiramos expressões artísticas da mais diferentes matizes. Expressões artísticas híbridas, tradicionais ou contemporâneas. Mas na escola tem que ser a caixinha fechada das artes visuais, da música, do teatro e da dança. Será que essas ditas linguagens são tão separadas quanto alguns pregam? Será que a motivação para mergulhar no conhecimento artístico está na arte aberta, plural, híbrida, em rede, fazendo parte de matrizes fluídas com possibilidades múltiplas ou deve ser aquela baseada em linguagens, que nem concordo que são linguagens? Nesse sentido é necessário um debate mais consistente acerca dos princípios metodológicos da abordagem teórica em rede no ensino de arte.
Arte é expressão, não é linguagem. Em algumas situações pode ser linguagem quando se trata de técnicas a serem repetidas; mas quando se fala de livre expressão, de criatividade, de experimentar e vivenciar, o conceito de linguagem na arte vai por ladeira a baixo e perde espaço para concepções em cadeia com base risomática. Essa questão, eu abordo no meu livro “Amor invisível: artes e possibilidades narrativas” com mais profundidade. Lúcia Santaella em “Por que as comunicações e as artes estão convergindo?” também foca no tema em questão. Há pelo menos um século as comunicações estão inseridas nos contextos culturais. Algumas danças nativas, além de artísticas são canais de comunicação que traduzem histórias de vidas.
Foto de Carlos Cartaxo, postada no livro "Amor invisível: artes e possíbilidades narrativas" do mesmo autor.
“Característica marcante da cultura das mídias está na intensificação das misturas entre as mídias por ela provocada: filmes são mostrados na televisão e disponibilizados em vídeo; a publicidade faz uso da fotografia, do vídeo e aparece em uma variedade de mídias; canais de TV a t abo especializam-se em filmes ou em concertos, óperas e programas de arte, etc. Com isso, as misturas entre comunicações e artes também se adensam, tornando suas fronteiras permeáveis.” (SANTAELLA, 2007, p. 14).  
Referências:
BAUMAN, Sygmunt. Amor líquido: sobre as fragilidades dos laços humanos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2004.
SANTAELLA, Lucia. (2007) Por que as comunicações e as artes estão convergindo? São Paulo: Paulus.

domingo, 2 de setembro de 2018

Crianças felizes

Crianças felizes
Carlos Cartaxo
A felicidade é a essência da vida. Essa frase trago comigo há muitos anos e a repito sempre que me deparo com pessoas emocionalmente abaladas ou em estado de depressão. Quem de nós nunca teve uma grande tristeza, uma perda que nos deixou desconsolado? Qual o profissional da educação que nunca encontrou um/a aluno/a, seja na escola básica ou na faculdade/universidade, e não identificou um estágio de letargia ou deficiência na aprendizagem ou outro problema de cunho social, cultural, pedagógico ou psicológico? Também é comum se responsabilizar a escola por essa questão de baixo aproveitamento e rendimento do aluno, o que muitas vezes é problema da família. Não obstante o jogo de responsabilidades, o debate sobre o tema é necessário, então vamos ao assunto.
Consultando a página na internet da Biblioteca Virtual da Antroposofia encontrei um artigo que resolvi divulgar aqui devido a importância do seu conteúdo. As relações de comunicação no seio da família passam por momentos difíceis que merece estudo aprofundado, portanto posto o debate que a Biblioteca Virtual da Antroposofia nos propõe para leitura.




TRAGÉDIA SILENCIOSA
Dr. Luís Rajos Marcos
Fonte: Revista Pazes
Há uma tragédia silenciosa que está se desenvolvendo hoje em nossas casas e diz respeito às nossas joias mais preciosas: nossos filhos. Nossos filhos estão em um estado emocional devastador! Nos últimos 15 anos, os pesquisadores nos deram estatísticas cada vez mais alarmantes sobre um aumento agudo e constante da doença mental da infância que agora está atingindo proporções epidêmicas.

AS ESTATÍSTICAS:
-1 em cada 5 crianças tem problemas de saúde mental;
-um aumento de 43% no TDAH foi observado;
-um aumento de 37% na depressão adolescente foi observado;
-um aumento de 200% na taxa de suicídio foi observado em crianças de 10 a 14 anos.
O QUE ESTÁ ACONTECENDO E O QUE ESTAMOS FAZENDO DE ERRADO?
As crianças de hoje estão sendo estimuladas e superdimensionadas com objetos materiais, mas são privadas dos conceitos básicos de uma infância saudável, tais como:
-pais emocionalmente disponíveis;
-limites claramente definidos;
-responsabilidades;
-nutrição equilibrada e sono adequado;
-movimento em geral, mas especialmente ao ar livre;
-jogo criativo, interação social, oportunidades de jogo não estruturadas e espaços para o tédio.
EM CONTRASTE, NOS ÚLTIMOS ANOS AS CRIANÇAS FORAM PREENCHIDAS COM:
– pais digitalmente distraídos;
– pais indulgentes e permissivos que deixam as crianças “governarem o mundo” e sem quem estabeleça as regras;
– um sentido de direito, de obter tudo sem merecê-lo ou ser responsável por obtê-lo;
– sono inadequado e nutrição desequilibrada;
– um estilo de vida sedentário;
– estimulação sem fim, armas tecnológicas, gratificação instantânea e ausência de momentos chatos.
O QUE FAZER?
Se queremos que nossos filhos sejam indivíduos felizes e saudáveis, temos que acordar e voltar ao básico. Ainda é possível! Muitas famílias veem melhorias imediatas após semanas de implementar as seguintes recomendações:
– Defina limites e lembre-se de que você é o capitão do navio. Seus filhos se sentirão mais seguros sabendo que você está no controle do leme.
– Oferecer às crianças um estilo de vida equilibrado, cheio do que elas PRECISAM, não apenas o que QUEREM. Não tenha medo de dizer “não” aos seus filhos se o que eles querem não é o que eles precisam.
– Fornecer alimentos nutritivos e limitar a comida lixo.
– Passe pelo menos uma hora por dia ao ar livre fazendo atividades como: ciclismo, caminhadas, pesca, observação de aves/insetos.
– Desfrute de um jantar familiar diário sem smartphones ou tecnologia para distraí-lo.
– Jogue jogos de tabuleiro como uma família ou, se as crianças são muito jovens para os jogos de tabuleiro, deixe-se guiar pelos seus interesses e permita que sejam eles que mandem no jogo.
– Envolva seus filhos em trabalhos de casa ou tarefas de acordo com sua idade (dobrar a roupa, arrumar brinquedos, dependurar roupas, colocar a mesa, alimentação do cachorro etc.).
– Implementar uma rotina de sono consistente para garantir que seu filho durma o suficiente. Os horários serão ainda mais importantes para crianças em idade escolar.
– Ensinar responsabilidade e independência. Não os proteja excessivamente contra qualquer frustração ou erro. Errar os ajudará a desenvolver a resiliência e a aprender a superar os desafios da vida.
– Não carregue a mochila dos seus filhos, não lhes leve a tarefa que esqueceram, não descasque as bananas ou descasque as laranjas se puderem fazê-lo por conta própria (4-5 anos). Em vez de dar-lhes o peixe, ensine-os a pescar.
– Ensine-os a esperar e atrasar a gratificação. Fornecer oportunidades para o “tédio”, uma vez que o tédio é o momento em que a criatividade desperta. Não se sinta responsável por sempre manter as crianças entretidas.
– Não use a tecnologia como uma cura para o tédio ou ofereça-a no primeiro segundo de inatividade.
– Evite usar tecnologia durante as refeições, em carros, restaurantes, shopping centers. Use esses momentos como oportunidades para socializar e treinar cérebros para saber como funcionar quando no modo “tédio”.
– Ajude-os a criar uma “garrafa de tédio” com ideias de atividade para quando estão entediadas.
– Estar emocionalmente disponível para se conectar com crianças e ensinar-lhes autorregulação e habilidades sociais.
– Desligue os telefones à noite quando as crianças têm que ir para a cama para evitar a distração digital.
– Torne-se um regulador ou treinador emocional de seus filhos. Ensine-os a reconhecer e gerenciar suas próprias frustrações e raiva.
– Ensine-os a dizer “olá”, a se revezar, a compartilhar sem se esgotar de nada, a agradecer e agradecer, reconhecer o erro e pedir desculpas (não forçar), ser um modelo de todos esses valores.
– Conecte-se emocionalmente: sorria, abrace, beije, faça cócegas, leia, dance, pule, brinque ou rasteje com elas.

“A Biblioteca Virtual da Antroposofia é uma iniciativa particular e a seleção de textos e publicações são única e exclusivamente de minha responsabilidade.” – Leonardo Maia


Fontes: http://www.antroposofy.com.br/forum/tragedia-silenciosa/ e Revista Pazes.
Foto: Carlos Cartaxo. Criança: Iaco Cartaxo



quinta-feira, 9 de agosto de 2018

O olhar, a arte e o amor


O olhar, a arte e o amor
Carlos Cartaxo
O mundo é pequeno. Essa assertiva, que ouço desde criança, me faz descobrir particularidades oriundas do mundo por onde circulo. Nesse circuito de aprendizagens foco o olhar para o universo da arte e a relação aproximada desta com o sentimento humano do amor. O princípio teórico se baseia na contextualização da arte na perspectiva multicultural de ser humano.
Uma sequência de fatos foram marcantes recentemente. Uma amiga, artista portuguesa, me perguntou: por que vocês idolatram tanto Lula? Mais na frente encontrei, em uma parede da histórica cidade de Coimbra, imagens de apoio a Lula e Dilma. A sensibilidade de uma poetisa amiga que postou a bela música “Haja o que houver” do Madredeus também alimentou minha alma tornando-a efervescente.  Ao mesmo tempo me chegou “Take on me”, do A-ha, fortalecendo minha visão amável sobre o próximo. Essa junção de acontecimentos alimentou um processo convergente de reflexão que homogeneizou o meu coração, o que é conotativo à mente. Esse redemoinho de sentimentos e moções alimenta a aprendizagem com a vida e me convence de que o mundo é pequeno. Apesar dessa visão diminuta, felizmente o ser humano é grande, embora, em alguns momentos, se faça pequeno.
O mundo é pequeno para o amor. É pequeno sim, o amor só cabe no coração. Não, ele cabe também na consciência. O amor cabe também... bom ele... escapa e pode ser identificado pelo olhar. O olhar do artista, o olhar da criança, o olhar da mulher, o olhar do... de todos os que vêm no sorriso o reflexo da alma. E o que fazer as pessoas que não conseguem construir esse circuito fantástico que nos abre a porta conotativa do universo e nos apresentando a felicidade?
Fui à rua em Lelystad, Holanda, com o intuito de descobrir coisas novas. Deparei-me com uma série de esculturas que compõe parte do cenário da cidade. Jovem cidade com apenas 51 anos e uma população em torno de 72 mil habitantes. Situada há, aproximadamente, seis metros abaixo do mar. A cidade faz parte da província de Flevolândia onde está a maior ilha artificial do mundo, ou seja, foi construída com tecnologia avançada da engenharia, aumentando significativamente a área da Holanda.

Escultura em Lelystad, fonte: internet
Fui à rua em Coimbra, Viseu, Porto e Lisboa, Portugal, cidades históricas seculares, onde também encontrei obras de arte por todos os lados que meu olhar alcançava. A arquitetura e a arte urbana foram meus focos. O cenário secular me levou ao encontro com minha própria história. Eu encontrei a mim mesmo, meu passado e a força do amor na minha biografia.

Escultura no Porto, fonte: Adufpb
É importante ressaltar que a arte humana não é neutra, se é que existe neutralidade no ser humano. Quero dizer que a arte urbana é politicamente explicita. Seu foco não é apenas a expressão artística, mas a expressão ideológica. Isso faz com que possamos compreender nosso papel social como seres políticos que somos. Essa compreensão alicerça em mim a concepção do teatro do oprimido de Augusto Boal, a humanidade e solidariedade de Bertolt Brecht, a concepção de leitura e aprendizagem de Paulo Freire, o amor e o poder em Willian Shakespeare.
Então, essas cidades do continente europeu têm algo em comum, é o amor pela arte. Em tempos de amor líquido, que pela ótica de Zygmunt Bauman, tão bem aborda sobre a fragilidade das relações humanos, especialmente, aqueles laços que chamamos de amor, foi exatamente nas ruas e obras de artes dessas cidades que pude fortalecer minha tese de que o amor existe e está na tríade humana situada entre o coração, o olhar e a mente. Quem não sabe fazer a conexão com essa tríade, está distante do que seja o amor. Para se aproximar e deixar o amor ser um sentimento rico dentro de si, com possibilidade de captar o verdadeiro amor que se aproxima, faz-se necessário exercitar a sensibilidade; e a arte é um conhecimento facilitador desse exercício. Então, quando estiveres a passear por uma rua exercite a sensibilidade e entre em harmonia com as expressões artísticas que por lá houver.
E o que é arte? Não procure enquadrar o conceito de arte em algo predeterminado. Tudo que lhe proporcionar sensações e emoções, você pode entender como sendo arte. Deixe que seu coração defina!

domingo, 29 de julho de 2018

Sentidos pós-modernos no universo da arte e counicação


Sentidos pós-modernos no universo da arte e da comunicação

Carlos Cartaxo
Andar pelo mundo, olhar em volta do tempo, cronometrar os sorrisos que iluminam o dia; muitos clareiam até a noite esbanjando luz onde há escuridão, é perceber que tudo é pouco diante do que há para se descobrir. Há muito tempo ouço que se faz necessário quebrar paradigmas, mas vejo que muitos dos conceitos se mantêm intactos como se mudanças fossem o inesperado diante do desconhecido. Pois bem, a semana passada participei, como convidado, do 6º Retiro Doutoral da Universidade Aberta, em Lisboa. E lá pude partilhar de momentos enriquecedores propiciado pelo DMAD - Doutoramento em Média-Arte Digital conjunto da Universidade Aberta e da Universidade do Algarve, Portugal[1].
As transformações tecnológicas, culturais, sociais e políticas desse início de século XXI estão imersas na mídia, sendo expressas através da arte virtual. As possibilidades de trabalho são muitas. A arte interativa é uma realidade que desde o final do século XX se estabeleceu nas artes plásticas, o cinema, na televisão, nos jogos virtuais, etc. O rádio, por exemplo, foi o meio de comunicação que desde cedo trabalhou com a interatividade, procedimento que foi absorvido pela televisão ainda no século XX. O século XXI iniciou com a perspectiva interativa das mídias, o que tem sido motivo de ruptura paradigmática para muita gente. A arte digital quebrou o paradigma da arte moderna como sendo um produto, digo uma “obra”, que ficava em teatros, galerias e museus, espaços elitistas, portanto seletivos da criação artística.
O fato de eu ser um dos professores que ministram a disciplina de Direção de Arte do Departamento de Comunicação da Universidade Federal da Paraíba, me fez mergulhar nesse celeiro buscando a quebra de paradigmas necessários para o avanço dessa área de conhecimento. A disciplina Direção de Arte foi criada com a intenção de contribuir, como conteúdo, para a formação profissional nos cursos de cinemas e audiovisual, e Radialismo (com pesquisa em televisão e internet), com abertura optativa para os cursos de Jornalismo, Mídias digitais, Artes Visuais e Teatro. A procura por essa disciplina tem sido intensa e vem de vários outros cursos da UFPB.
Esse interesse existe porque as transformações da mídia têm causado uma revolução no que se entende por direção de arte. Os sentidos pós-modernos ocuparam os espaços por muito tempo dominados pelo modernismo. Essa trajetória vem de longe. Em 1450 Gutemberg inventou a prensa que permitiu a impressão em escala de produções gráficas. Em 1880, a fotografia surgiu registrando a vida no tempo e espaço. O cinema teve a marcante data da primeira projeção, dos irmãos Lumière, em 28 de dezembro de 1895, em Paris. A câmera digital foi apresentada, pela primeira, vez pela Kodak em 1976 denominada de “câmera sem filme”. A evolução é continua, em passos largos e, hoje, a narrativa visual (conhecida como visual storytelling) é a realidade para se contar histórias tendo como canal o uso de mídia visual. Esse processo representa a quebra de paradigmas para quem estabelece a arte como sendo fracionada por quatro expressões (linguagens), como na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, no Brasil, que fixa o ensino de arte em apenas, Artes Visuais, Teatro, Dança e Música. 

A narrativa visual pode contar histórias usando fotografia, ilustração ou vídeo, qualquer imagem fixa ou móvel, e pode utilizar múltiplos recursos como gráficos, música, voz e composições de áudios. Quem deseja mergulhar nesse universo pode se aprofundar através dos endereços: https://wakelet.com/; https://www.scoop.it/; http://kontribune.com/; https://paper.li/; https://spark.adobe.com/home/.
O 6⁰Retiro Doutoral em Mídia-Arte Digital em Alfama aconteceu em Lisboa, de 21 a 27 de julho de 2018; foi um laboratório de ações artísticas no contexto das “novas tecnologias e os novos modos de ver e pensar arte”, como diz o programa do evento; e acrescento além da arte, no contexto da comunicação. A introdução do programa do evento define bem a visão de futuro que pesquisam “A média-arte digital é aqui definida como a arte que utiliza a tecnologia da média digital como processo (meio) e/ou como produto (resultado final) onde a tecnologia constitui uma ferramenta ao serviço do engenho criativo (artístico, cultural, educacional, lúdico, entre outros) ou como um motor para inovação ao nível da criação de novas formas e discursos estéticos que exploram a expressividade informativa, sensorial e interventiva dos conteúdos multimédia.”[2]
A pós-modernidade se fez presente nas várias conferências temáticas. Professores, pesquisadores e artistas brasileiros também fizeram parte da programação, estreitando os laços científicos entre Brasil e Portugal. Os conteúdos expressaram uma nova visão estética e técnica sobre a criação em arte e a convergência entre arte e comunicação, principalmente no que concerne a reutilização conceitual de imagens, objetos e interfaces tecnológicas da comunicação, logo, do conhecimento[3].
Muito está por se fazer; mas há muita gente nas universidades pensando a nova roupagem para a humanidade; todavia para que essa evolução signifique avanço, faz-se necessário quebra de paradigmas que dêem sentido a arte, a comunicação e a vida.


[2] http://portal.uab.pt/dcet/wp-content/uploads/sites/12/2018/04/DMAD_guiacurso_6%C2%AAed.pdf
[3] http://portal.uab.pt/wp-content/uploads/2018/07/NOT_Programa_Retiro_Alfama.jpg

segunda-feira, 25 de junho de 2018

Conhecimento, a base dos valores humanos

Conhecimento, a base dos valores humanos
Carlos Cartaxo

Vejo os 24 anos da ditadura no Brasil reproduzir o arbítrio com a prisão de Lula; vejo e vivo um golpe de Estado do Legislativo, ratificado pelo judiciário; vejo 50 anos do maio de 1968 em Paris; vejo a primavera de praga; 200 anos do nascimento de Karl Marx, tudo isso como uma trilha aberta a se continuar na história. Em contrapartida vejo meus alunos inertes diante do retrocesso que passa o Brasil, inclusive da escalada de ataques ao ensino público e as leis trabalhistas; vejo esses mesmos alunos fazerem de conta que estudam, fazerem de conta de leem; vejo professores de artes, suponho profissionais bem informados e sensíveis, silenciarem diante das reformas retrógradas do ensino do Brasil.
Então, que fazer? Dormir em berço esplêndido? Desacreditar que o ser humano pensa no próximo? Esquecer a força da solidariedade? Deixar de lado a tese de que quanto menor as diferenças de classes mais equilibrada e feliz será a sociedade?
Faço uma revisão de minhas leituras e me vem à mente a peça "Mãe Coragem" de Bertolt Brecht; um libelo as ações devastadoras do Fascismo e do Nazismo na Europa; lembro o quadro "Guernica" de Pablo Picasso, trabalho cubista exposto no Museu Reina Sofia, Madrid, em que o artista expõe sua indignação com o bombardeio à cidade espanhola de Guernica no dia 26 de abril de 1937; recordo a música “Mote do navio” em que o compositor Pedro Osmar, já na primeira estrofe, expressa a força da arte no contexto social: “Lá vem a barca/ Trazendo o povo/ Pra liberdade/ Que se conquista”. É enorme a lista de trabalhos artísticos que têm como base a democracia, a luta contra as desigualdades sociais, a favor dos direitos humanos, contra a escravidão “moderna”, a defesa da justiça social, a valorização da mulher e das culturas. Então por que muitos artistas e criadores se eximem e fogem de produzir uma arte comprometida com os avanços sociais? É a arte pela arte? É o sucesso pelo sucesso? A liquidez dos valores estéticos?
Foto reproduzida da internet

Historicamente existem artistas com trabalhos focados para todas as direções: direita, esquerda, frente, atrás, cima e em baixo. Mas se a arte é uma expressão humana cuja essência é comunicar algo para alguém, por que muitos criadores, nesse processo de emissão e recepção de informações, se isentam da responsabilidade sobre o conteúdo que emitem e expressam artisticamente? Ou, de fato, essas pessoas estão do lado do consumo, da vaidade, da individualidade, do egoísmo e outros valores que se chocam com o avanço da humanidade?
A radiografia do tempo no coloca no final da segunda década do século XXI, terceiro milênio; nesse referencial temporal nos deparamos com muitos retrocessos políticos, sociais e humanitários que estão acontecendo, concomitantemente, em todo o mundo. Nesse contexto me volto à comunidade universitária no Brasil que faz parte da geração complexa e difusa fruto da sociedade líquida, seio da era pós-moderna que desponta no horizonte turvo, tema estudado com propriedade por Zygmunt Bauman no livro Modernidade líquida.
Então me vejo diante de pessoas que leem pouco, que se vão pela onda dos textos rápidos e sucintos das redes sociais. Essa questão da liquidez social e comportamental é tratada por Bauman a partir lógica dicotômica de líquido/sólido e leve/pesado, com o fim de analisar as relações sociais a partir de abordagens que considerem tempo/espaço, individualidade, emancipação, trabalho e sociedade. Esse processo individualiza os sujeitos constituindo uma sociedade de indivíduos, o que acelera a busca desenfreada do consumo tornando essa procura um ritual de incertezas e instabilidades emocionais, sociais e econômicas. A forma física passa a ser mais importante que a energia do abraço. A moda passa a ser um elemento determinante na forma de ser e viver. O comportamento passa a ser reprodutivo e consumista, ou seja, se meu amigo tem uma tatuagem, eu também devo ter. Se ela pintou o cabelo, eu também devo pintar. Se ele fuma, devo fumar. Se aquele artista faz sucesso, mesmo que impulsionado pela mídia que sobrevive a base do consumo, então também devo me tornar seu fã. Essa instabilidade recheada de dúvidas adentra nosso âmago e passa a determinar nossa forma de ser e viver. Em muitos casos essa condição impõe perdas de valores morais e éticos. Sonhar em ter um grande amor é um sonho real que é violado pela busca virtual da pseudo felicidade.
No centro dessa turbulência de ser e não ser shakespeariano, o contexto e o coletivo social deixa de ser a essência da civilidade e o ser humano se desumaniza passando a viver sem pensar o próximo e o todo. Dessa forma o que significa se comunicar sem pensar no receptor das mensagens, mas apenas em si? A resposta é complexa e pode ser argumento para uma tese acadêmica; afinal, o conhecimento é a base estrutural da sociedade porque constitui elementos que formalizam os valores humanos.

quarta-feira, 6 de junho de 2018

Investigação Baseada na arte, o que vem a ser isso?

Investigação Baseada na arte, o que vem a ser isso?

O Instituto Federal de Educação e Tecnologia do Ceará – IFCE, através do Programa de Pós-Graduação em Artes, realizou o I Seminário Práticas Artísticas e Demandas Contemporâneas, de 23 a 27 de abril de 2018, com o tema Miscigenação Poética: o lugar da pesquisa na arte. Eu preparei o artigo “Investigação Baseada na Arte: um recurso metodológico para a pesquisa em arte” para debater no evento. O tema foi foco da minha tese de doutorado, publicado no livro Amor invisível: artes e possibilidades narrativas, e é recorrente, pelo menos com meus orientados e membros do Grupo de Pesquisa Artes, Comunicação e Possibilidades Narrativas da UFPB.
Quando se trata de pesquisa em arte, muitas dúvidas despontam como água na fonte. Arte é conhecimento ou entretenimento? Arte é ciência? Pela ótica de muitos pesquisadores das Ciências Humanas e Sociais, sim. Pelo olhar das ciências exatas, não. O fato é que eu trabalho com a perspectiva de que arte gera conhecimento, portanto é ciência. Contudo essa compreensão merece atenção redobrada porque para se fazer ciência faz-se necessário rigor acadêmico. O trabalho artístico traz em si a candura e subjetividade da criação; todavia a pesquisa em arte exige a profundidade de análise científica sobre o objeto que se estuda. Por exemplo, deve-se evitar a busca do caminho mais fácil quando se trata com arte pela ótica científica. Devem-se evitar equívocos como confundir relatório com dissertação, trabalho lato sensu com stricto sensu. Quando se trata de um trabalho de conclusão de curso ou uma monografia de especialização, falamos de lato sensu, que é um trabalho de sentido amplo. Quando a pesquisa é uma dissertação ou tese falamos de trabalho stritu senso, ou seja, de sentido limitado, que exige um aprofundamento teórico mais consistente; nesse caso há que ter uma metodologia de pesquisa bem definida e rigor científico. Na dissertação de mestrado se pesquisa um objeto com o fim de aprofundamento temático, mesmo que este já tenha sido explorado em outras pesquisas. No caso da tese de doutorado, faz-se necessário um aprofundamento científico, um tratamento diferenciado, inovador, inédito para o objeto pesquisado.
A convivência com essa questão no seio da universidade me faz trazer a pesquisa em arte para o foco da ciência com essa atenção mais apurada porque o fazer artístico, infelizmente, é muito tecnicista. Ainda o é! A pós-modernidade está dando um puxão de orelha em quem insiste pela ótica tecnicista no fazer e no ensinar arte. Diagnostico que na universidade se está lendo muito pouco. O grupo de pesquisa que atuo “Artes, comunicação e possibilidades narrativas” também diagnostica a mesma deficiência de leitura contextual. Poucos alunos conhecem sobre a cultura do espetáculo citada por Guy Debord, a arte no contexto da sociedade líquida e individualizada tratada por Zygmunt Bauman. O que é mais grave, nunca ouviram falar de Elliot Eisner.
Eisner foi quem pensou a Investigação Baseada na Arte e provocou essa área de conhecimento questionando se existe outro lugar mais adequado para ousar na pesquisa em arte que não seja a pós-graduação nas instituições de ensino superior. Esse é um campo a ser explorado, todavia precisa-se quebrar o paradigma da arte tecnicista. Como sugestão para esse rompimento, sugiro a arte híbrida como caminho a ser trilhado.
Set de filmagem na Time Square. Nova Iorque, EUA.
Minha escolha por trabalhar com a IBA se deu quando descobri que sua finalidade é
utilizar a arte como método, uma forma de análise, de diagnóstico, um tema, ou todos esses propósitos dentro da investigação qualitativa. A pesquisa baseada na arte parte da compreensão de que as artes, da mesma forma que as ditas ciências, geram conhecimentos, portanto podem ajudar-nos a compreender o mundo no qual vivemos.

segunda-feira, 7 de maio de 2018

A primeira vista

À primeira vista
Carlos Cartaxo

Ela chegou não sei bem de onde; nem sei bem por onde. Cheirosa, sensual e elegante, vestida como uma deusa; se é que sei como as deusas se vestem. Seu olhar profundo me hipnotizou, foi uma fonte jorrando libido no meu âmago masculino. Senti a doçura dos seus lábios; senti a ternura da sua feminilidade dócil. Fiquei encantado! Belisquei-me para ter certeza de que não era sonho. Sua respiração irradiou energia de desejo, de determinação. Veio-me à mente a sensação cálida: mulher revolucionária!
Que encanto! Nada, muito mais: deslumbre! Sonho travestido de realidade. Inspiração brotando como água vertente na fonte. Uma cachoeira de idéias libidinosas. Acreditar ou subverter a lógica da paixão e me anular? Amor à primeira vista! Que nada, apenas... Era inexplicável o que sentia. Uma sensação pulsante que vinha das entranhas do homem que sou. Uma força interior que me deixava suando, propiciando um nervosismo incontrolável. Pura excitação! Deixar a racionalidade escapar pelos olhos ou fingir que não vê? Viver, simplesmente viver foi a opção determinística de quem deveria usufruir do momento.
A deusa mudou de posição. Ela é de verdade, tem vida como todas as deusas reais. Felizmente tem vida, não é apenas um sonho. Eu não queria acreditar que aquela mulher era de carne e osso. O jeito sutil de jogar o cabelo para trás foi um estímulo a mais na minha percepção masculina que trás consigo o conceito preciso do que é ser feminina. Absorto, permaneci incrédulo. A dúvida cruel que domina milhões de pessoas, nesse exato momento, me fazia mais um, nesse universo de milhões. Acreditar ou não? Num átimo conclui que não há escolha para quem está sob o efeito de encantamento, senão mergulhar na profundeza do sonho.
Trouxe à superfície da pele a sensibilidade para concretizar a minha certeza: era o melhor dos meus sonhos. Só do meu, não, dos sonhos de muitos e muitos que poderiam estar vivendo aquele momento. A partir daí já não havia mais dúvida, era entrega total. Ser ou não ser? Sou homem o suficiente para encarar, assumir a felicidade ao lado daquela princesa.
Foram horas de insinuações; o tempo que o mundo precisava para colher a felicidade. Feminilidade à flor da pele. Como um axioma, assim não há quem resista. Até que, felizmente, ela tomou a iniciativa e partiu para encetar o diálogo. Eu nem poderia acreditar que a decisão vinha dela. A dúvida estava recheada de surpresa: o que será que uma deusa pode falar? Olhou para minhas mãos e observou o volume que eu segurava. Não hesitou e proferiu a primeira frase: não sei como alguém gosta de ler!
Foto da internet. Não foi identificado o;/a autor/a.

quarta-feira, 2 de maio de 2018

Formação superior em arte: bacharelado ou licenciatura?

Formação superior em arte: bacharelado ou licenciatura?
Carlos Cartaxo

Dentre as minhas preocupações como pesquisador, a temática que tem sido recorrente é a estrutura pedagógica dos cursos de artes em nível superior no Brasil. Estamos chegando ao final da segunda década do século XXI e ainda encontramos cursos de licenciaturas de arte que são apenas complemento pedagógico do bacharelado. Quem pensa por essa ótica não conhece os procedimentos pedagógicos das artes no ensino básico.
Primeiramente: a arte no ensino básico não tem a função de formar artistas. Portanto deve ser ministrado por profissionais licenciados, professores, preparados pedagogicamente para ministrarem conteúdos para formação estética e cultural dos discentes.
Segundo: o bacharel não tem formação pedagógica, apenas técnica; portanto é o profissional preparado para atuar no mercado como artista.
Os bacharelados formam profissionais que, muitas vezes, não encontram mercado de trabalho, então vão atuar como professores do ensino básico sem formação para tal. Partem do pressuposto de que o fato de ser artista lhe dá qualificação para entrar em sala de aula do ensino infantil, fundamental ou médio. Quando isso acontece, as pesquisas que desenvolvo no grupo de pesquisa Artes, Comunicação e possibilidades narrativas, constatam que falta a formação didática e a finalidade do ensino de arte no ensino básico toma outro rumo que não é o mais adequado, nem o indicado.
Então, o argumento de que a licenciatura é apenas uma complementação pedagógica do bacharelado é um equívoco de quem não conhece a estrutura pedagógica para formação docente. Não basta conhecer arte ou ser um bom artista para ser professor de arte; faz-se necessário saber como e com que recursos trabalhar a arte em sala de aula. Precisa conhecer os conceitos de Piaget e Vygotski sobre a evolução do pensamento. Precisa conhecer o método dialético de Paulo Freire. Uma coisa é dar aula para formar artista; outra é dar aula para forma cidadãos cultos, intelectualmente preparados para apreciar e partilhar o universo artístico e cultural. A pessoa que conhece arte e é consumidor de arte, necessariamente não precisa ser artista. É a mesma lógica das outras disciplinas. A matemática que se ensina na escola não é com o fim de formar matemáticos; a literatura que se ensina, não é necessariamente para formar escritores.
No universo plural, líquido, volátil e individualizado que estamos vivendo não se comporta mais o ego de artistas que se tornam professores no ensino superior, distantes quilômetros da sala de aula do ensino básico, mas que insistem em fazer dos cursos de graduação, cursos eminentemente tecnicistas. Nunca é demais lembrar a essas pessoas que o tecnicismo fruto do taylorismo e do fordismo foi há um século. O contexto atual é outro e eles, esses professores, estão inseridos nessa nova realidade.
Essa questão eu abordei no meu livro O ensino das Artes Cênicas na escola Fundamental e Média de 2000. Critico o enquadramento do ensino das artes em apenas quatro categorias: Teatro, Dança, Música e Artes Visuais. Esta última é confundida com artes plásticas. E onde fica o ensino do áudio-visual, do circo, da performance, da capoeira, da ópera? Lembro que ópera não é apenas a erudita. Os folguedos populares como: Nau Catarineta, Boi bumbá, etc., são óperas populares. O argumento é que essas expressões artísticas entram nas quatro categorias principais, ou seja, essas últimas ficam à margem, infelizmente por falta de inclusão são marginalizadas.



Esse modelo de matriz pedagógica para o ensino de arte não corresponde à dinâmica da pós-modernidade. Há muito tempo que venho combatendo esse equivoco que até hoje muitos insistem em martelar no conservadorismo. Meu livro Amor invisível: artes e possibilidades narrativas, de 2015, também aborda essa questão.

A arte se reinventa, todavia o ensino de arte no Brasil insiste e persiste dentro de um sistema de casta que faz da arte um emblema que não pode mudar muito menos avançar. Enquanto isso, os cursos nas instituições de ensino superior se distanciam da realidade e permanecem, lembrando o compositor nordestino Belchior, “como nossos pais”.

Referências
CARTAXO, Carlos. Amor invisível: artes e possibilidades narrativas. João Pessoa, Ed. CCTA, 2015.
̶ ̶ ̶ ̶ ̶ ̶ ̶̶ ̶ ̶ ̶̶ ̶ ̶ ̶ ̶ ̶ ̶ O ensino das Artes Cênicas na escola Fundamental e Média. João Pessoa, Ed do autor, 2000.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988.
PIAGET, Jean. A formação do símbolo na criança. Rio de Janeiro: Zahar, 1971.
VYGOTSKY, L. S. Pensamento e Linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 1991.


segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018

Asas para voar com a arte
Carlos Cartaxo
O desejo humano de voar sempre foi exponencial. Ícaro, quem era mesmo? Esse personagem mitológico foi criado de forma ficcional para o ser humano poder dá forma, mesmo que conotativa, ao sonho de voar. Aqui temos a arte nos permitindo voar ou nos dando o direito de voar através da arte ou até mesmo com ela.
Pois bem, no final de 2017, vi e interagi com uma postagem na internet, de um artista plástico de Campina Grande, Paraíba, Brasil, que perguntava sobre a opinião de um vídeo de uma performance. No momento não vem ao caso a performance, mas como ele adjetivou aquela expressão artística. Ele perguntou se era arte, mas ele mesmo respondeu dizendo que não era e que aquilo era uma “merda”, palavra dele.
Diante desse quadro pintado por esse artista, me resta a dúvida: será que ele tem alguma noção sobre história da arte? Será que ele sabe sequer distinguir arte clássica, da moderna e da pós-moderna? A trajetória da arte segue a mesma trajetória da história da humanidade, ou seja, está em constante mutação.  Em muitos casos o processo é de constante transformação. Não obstante essas mudanças, muitos artista ficam apenas focados no fazer e não se dão conta de que o fazer não deve ser apenas um ato isolado, até porque ninguém está totalmente isolado sem interferência do meio que o rodeia. Nesse sentido, o artista é um sujeito, assim como todo mundo, que tem que se atualizar constantemente porque a arte, como a vida, é dinâmica, é um fluxo e refluxo de ser e não ser.
Quando o artista ou qualquer outro ser humano não se atualiza fica refém das mudanças constantes da vida. Estagnar diante do tempo e das transformações do mundo é uma opção suicida. A comunicação é um bom referencial para essa tese. “Quem não se comunica se trumbica”. Esse jargão do animador Chacrinha, Abelardo Barbosa, é a chave para a compreensão de que se isolar quer dizer se comunicar de forma estática.
Eu tenho visitado inúmeros museus e instituições de arte pelo mundo, dentre elas museus de arte contemporânea. Ao se deparar com a arte contemporânea, que prefiro denominá-la pós-moderna, temos um impacto de compreensão e admissibilidade de que “aquilo” é arte. Daí a denominação pelo artista, campinenses, de que essa arte é “merda”. Para compreendermos algo precisamos conhecer e, na maioria dos casos, estudar sobre o tema. Como estamos vivendo um momento de transição entre a modernidade e a pós-modernidade, precisamos de conhecimento sobre como essa transição acontece, o porquê dela acontecer, como os sujeitos se comportam diante dessas mudanças significativas, muitas vezes pouco perceptíveis. Para isso temos que ter humildade para aprender sobre o momento que estamos vivendo e como a arte se situa nesse contexto.
Uma das formas de entender e aprende sobre a arte no contexto pós-moderno além de leituras é visitar museus, galerias, ver filmes, performances e espetáculos. Recentemente visitei o Instituto de Arte Contemporânea de Boston - ICA, EUA, e lá a primeira pessoa a qual me lembrei foi o colega artista campinense. Esse cidadão do mundo da arte, como todos nós, precisa mergulhar no universo artístico que não seja apenas aquele que ele está inserido. É uma questão de alfabetização visual. É a importância de compreender e decodificar os processos denotativos e conotativos que são intrínsecos a arte enquanto expressão comunicativa do ser humano. No ICA há uma exposição de Mark Dion, artista norte-americano, que rompe com as formas tradicionais da arte clássica e usa elementos naturalistas no contexto da pós-modernidade para expressar, através de instalações, sua visão de mundo no final da segunda década do século XXI. Ele buscou objetos de escavações do século XIX, como garrafas, ferramentas, cerâmicas e expôs a vida passada e seus efeitos conotativos no hoje. É um trabalho fruto de pesquisa etnográfica, é um misto de ciência e arte. É um trabalho pós-moderno que tem nos elementos da natureza e do cotidiano a essência do ser humano. Para dizer que essa criação é arte não basta dizer gosto ou não gosto, muito menos adjetivar com palavras indevidas e preconceituosas. 
O ICA também tem uma agenda de performances. Aqui vem o que considero mais importante no universo pós-moderno da arte: a arte híbrida. Como escreveu Lúcia Santaella “a comunicação e arte convergem”. Essa tendência contribui para expressar o mundo hoje, a pluralidade e velocidade da veiculação das informações, a manipulação das informações e das formações. A ideologia do consumo e da dependência de algo e até de alguém.
No Brasil temos uma série de instituições que trabalham com arte no contexto contemporâneo e/ou pós-moderno, por exemplo, o Inhotim em Minas Gerais que é um referencial significativo para formação, interação e lazer. No Porto, em Portugal, temos O Museu de Serralves que é um belo exemplo de instituição que quebra paradigmas, renova conceitos e contribui esteticamente para com a alfabetização visual. O Museu de Arte Contemporânea de Barcelona, Espanha, também engrandece o debate sobre o tema pela riqueza que constitui o seu acervo e por suas belas exposições programadas.
Peça em exposição no Inhotim
Portanto o debate, a leitura e estudos são importantes na formação cidadã, até porque gosto se discute, sim.  E quem tem conhecimento tem vôos mais seguros e precisos sem ser dono da verdade absoluta; até porque o conhecimento e a humildade nos possibilitam entender que toda verdade é relativa, inclusive nos relacionamentos humanos e no universo da arte e da comunicação.