À primeira vista
Carlos Cartaxo
Ela chegou não sei bem de onde; nem sei bem por onde. Cheirosa, sensual e elegante, vestida como uma deusa; se é que sei como as deusas se vestem. Seu olhar profundo me hipnotizou, foi uma fonte jorrando libido no meu âmago masculino. Senti a doçura dos seus lábios; senti a ternura da sua feminilidade dócil. Fiquei encantado! Belisquei-me para ter certeza de que não era sonho. Sua respiração irradiou energia de desejo, de determinação. Veio-me à mente a sensação cálida: mulher revolucionária!
Que encanto! Nada, muito mais: deslumbre! Sonho travestido de realidade. Inspiração brotando como água vertente na fonte. Uma cachoeira de idéias libidinosas. Acreditar ou subverter a lógica da paixão e me anular? Amor à primeira vista! Que nada, apenas... Era inexplicável o que sentia. Uma sensação pulsante que vinha das entranhas do homem que sou. Uma força interior que me deixava suando, propiciando um nervosismo incontrolável. Pura excitação! Deixar a racionalidade escapar pelos olhos ou fingir que não vê? Viver, simplesmente viver foi a opção determinística de quem deveria usufruir do momento.
A deusa mudou de posição. Ela é de verdade, tem vida como todas as deusas reais. Felizmente tem vida, não é apenas um sonho. Eu não queria acreditar que aquela mulher era de carne e osso. O jeito sutil de jogar o cabelo para trás foi um estímulo a mais na minha percepção masculina que trás consigo o conceito preciso do que é ser feminina. Absorto, permaneci incrédulo. A dúvida cruel que domina milhões de pessoas, nesse exato momento, me fazia mais um, nesse universo de milhões. Acreditar ou não? Num átimo conclui que não há escolha para quem está sob o efeito de encantamento, senão mergulhar na profundeza do sonho.
Trouxe à superfície da pele a sensibilidade para concretizar a minha certeza: era o melhor dos meus sonhos. Só do meu, não, dos sonhos de muitos e muitos que poderiam estar vivendo aquele momento. A partir daí já não havia mais dúvida, era entrega total. Ser ou não ser? Sou homem o suficiente para encarar, assumir a felicidade ao lado daquela princesa.
Foram horas de insinuações; o tempo que o mundo precisava para colher a felicidade. Feminilidade à flor da pele. Como um axioma, assim não há quem resista. Até que, felizmente, ela tomou a iniciativa e partiu para encetar o diálogo. Eu nem poderia acreditar que a decisão vinha dela. A dúvida estava recheada de surpresa: o que será que uma deusa pode falar? Olhou para minhas mãos e observou o volume que eu segurava. Não hesitou e proferiu a primeira frase: não sei como alguém gosta de ler!
Foto da internet. Não foi identificado o;/a autor/a.
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