Investigação Baseada na arte, o que vem a ser isso?
O Instituto Federal de Educação e Tecnologia do Ceará – IFCE, através do Programa de Pós-Graduação em Artes, realizou o I Seminário Práticas Artísticas e Demandas Contemporâneas, de 23 a 27 de abril de 2018, com o tema Miscigenação Poética: o lugar da pesquisa na arte. Eu preparei o artigo “Investigação Baseada na Arte: um recurso metodológico para a pesquisa em arte” para debater no evento. O tema foi foco da minha tese de doutorado, publicado no livro Amor invisível: artes e possibilidades narrativas, e é recorrente, pelo menos com meus orientados e membros do Grupo de Pesquisa Artes, Comunicação e Possibilidades Narrativas da UFPB.
Quando se trata de pesquisa em arte, muitas dúvidas despontam como água na fonte. Arte é conhecimento ou entretenimento? Arte é ciência? Pela ótica de muitos pesquisadores das Ciências Humanas e Sociais, sim. Pelo olhar das ciências exatas, não. O fato é que eu trabalho com a perspectiva de que arte gera conhecimento, portanto é ciência. Contudo essa compreensão merece atenção redobrada porque para se fazer ciência faz-se necessário rigor acadêmico. O trabalho artístico traz em si a candura e subjetividade da criação; todavia a pesquisa em arte exige a profundidade de análise científica sobre o objeto que se estuda. Por exemplo, deve-se evitar a busca do caminho mais fácil quando se trata com arte pela ótica científica. Devem-se evitar equívocos como confundir relatório com dissertação, trabalho lato sensu com stricto sensu. Quando se trata de um trabalho de conclusão de curso ou uma monografia de especialização, falamos de lato sensu, que é um trabalho de sentido amplo. Quando a pesquisa é uma dissertação ou tese falamos de trabalho stritu senso, ou seja, de sentido limitado, que exige um aprofundamento teórico mais consistente; nesse caso há que ter uma metodologia de pesquisa bem definida e rigor científico. Na dissertação de mestrado se pesquisa um objeto com o fim de aprofundamento temático, mesmo que este já tenha sido explorado em outras pesquisas. No caso da tese de doutorado, faz-se necessário um aprofundamento científico, um tratamento diferenciado, inovador, inédito para o objeto pesquisado.
A convivência com essa questão no seio da universidade me faz trazer a pesquisa em arte para o foco da ciência com essa atenção mais apurada porque o fazer artístico, infelizmente, é muito tecnicista. Ainda o é! A pós-modernidade está dando um puxão de orelha em quem insiste pela ótica tecnicista no fazer e no ensinar arte. Diagnostico que na universidade se está lendo muito pouco. O grupo de pesquisa que atuo “Artes, comunicação e possibilidades narrativas” também diagnostica a mesma deficiência de leitura contextual. Poucos alunos conhecem sobre a cultura do espetáculo citada por Guy Debord, a arte no contexto da sociedade líquida e individualizada tratada por Zygmunt Bauman. O que é mais grave, nunca ouviram falar de Elliot Eisner.
Eisner foi quem pensou a Investigação Baseada na Arte e provocou essa área de conhecimento questionando se existe outro lugar mais adequado para ousar na pesquisa em arte que não seja a pós-graduação nas instituições de ensino superior. Esse é um campo a ser explorado, todavia precisa-se quebrar o paradigma da arte tecnicista. Como sugestão para esse rompimento, sugiro a arte híbrida como caminho a ser trilhado.
Set de filmagem na Time Square. Nova Iorque, EUA.
Minha escolha por trabalhar com a IBA se deu quando descobri que sua finalidade é
utilizar a arte como método, uma forma de análise, de diagnóstico, um tema, ou todos esses propósitos dentro da investigação qualitativa. A pesquisa baseada na arte parte da compreensão de que as artes, da mesma forma que as ditas ciências, geram conhecimentos, portanto podem ajudar-nos a compreender o mundo no qual vivemos.
utilizar a arte como método, uma forma de análise, de diagnóstico, um tema, ou todos esses propósitos dentro da investigação qualitativa. A pesquisa baseada na arte parte da compreensão de que as artes, da mesma forma que as ditas ciências, geram conhecimentos, portanto podem ajudar-nos a compreender o mundo no qual vivemos.
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